Sobre o Movimento Popular INCLUA-SE

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São Caetano do Sul, Região do ABCD /São Paulo, Brazil
Não sabemos o que somos e sim o que NÃO somos! Não somos uma organização não governamental sem fins e muito menos com fins lucrativos (ONGs); Não somos um INSTITUTO; Não somos uma INSTITUIÇÃO nem pertencemos a uma; Não somos de CONSELHOS nem representamos segmentos. Não defendemos bandeiras PARTIDÁRIAS. Sendo assim, somos ILEGÍTIMOS aos olhos dos Poderes Constituídos!

Simplesmente Balé.

Postado em 13.12.2010

 Por Tuca Monteiro



Saudades do meu tempo de balé, das redinhas do coque, das fitas e laços, do tutu engomado, das meias rosadas e marcadas pelo roçar das sapatilhas, do som do piano ao fundo, da marcação um, dois, três...; das baterias e piruetas - e naturalmente que não poderia me esquecer das sapatilhas acetinadas de ponta, rosa, perolada, preta... um sonho de uma realidade docilmente dolorida. 

 
Passados vinte anos ainda sinto os calos cuidadosamente esculpidos em meus pequeninos pés pelas sapatilhas de ponta: sapatilhas de ponta são e sempre foram o desejo de toda menina bailarina. A magia de elevar todo o corpo somente pelas pontas dos dedos dos pés!

Mas não fora o saudosismo das minhas aulas de balé, que às vezes me acomete, que me instigara a escrever.

Hoje, dia 13 de Dezembro, é celebrado o dia Nacional do Cego.

Vocês devem estar pensando: Qual é a relação do balé com este dia?

A relação que eu faço atende pelo nome de Fernanda Bianchini, fundadora da Associação de Ballet e Arte para Cegos . Hoje escrevo em celebração a esta profissional que se dedicou e desenvolveu um método de balé que possibilita às crianças, às (os) adolescentes e às (os) jovens com deficiência visual sentirem todas as sensações e emoções que uma aula de balé proporciona. De sonharem, como eu sonhei, em um dia elevar todo meu corpo sobre as pontas dos meus dedos dos pés e rodopiar, rodopiar, rodopiar...

É um deleite para a alma. Grata Fernanda por fazer a diferença.

Presenteio vocês com um slide de imagens do espetáculo O Quebra-Nozes, com as alunas da Associação, que aconteceu em 2008 no Teatro Paulo Machado de Carvalho, em São Caetano do Sul.




E para quem aprecia a arte da dança sobre as pontas dos dedos dos pés, compartilho um dos meus vídeos preferidos:









Teleton e MacDiaFeliz

Postado em 07.12.2010


Por Amilcar Zanelatto.





Na semana passada estive no centro de São Paulo a trabalho e, na volta, utilizei o metrô.
Na estação da Sé, uma aglomeração de pessoas visivelmente estressadas disputava espaço na plataforma pelo direito de se espremer dentro dos vagões e ser transportada a seu destino feito frangos de granja.

Google image.

Mas não foi o volume de pessoas em espaço pequeno que me chamou atenção: foi um enorme “bunner” publicitário pendurado no teto da estação e estrategicamente exposto no vão entre as plataformas. Tratava-se de propaganda de um antiácido contra dores e mal-estar estomacais. Desnecessário ser publicitário para compreender a conveniência de se fazer propaganda de um antiácido em um local onde as pessoas estão bastante estressadas, não?

O estresse provoca, dentre outras coisas, desconforto estomacal.

Então, pensei: se os sucessivos governos tivessem se preocupado em adotar políticas eficazes para o transporte público, será que o fabricante de antiácido faria a propaganda de seu produto ali?
Será que a indústria farmacêutica, que apoiou financeiramente tantas campanhas eleitorais, ficaria satisfeita se o governo eleito com sua contribuição criasse políticas públicas realmente eficientes para o setor?
Se houvesse um estudo preciso e detalhado que permitisse um planejamento de curto, médio e longo prazo que resultasse em uma solução definitiva para o transporte público?
Se parâmetros fossem revistos; paradigmas quebrados?

Digo isto porque aqui e em diversos países a ausência do Estado nas mais diversas esferas de sua responsabilidade acaba por produzir paradoxos como o descrito acima.

E a ausência do Estado em questões relacionadas à deficiência não somente produz paradoxos como também perpetuam equívocos.

A Europa do início do século passado passa por duas guerras devastadoras e boa parte de sua população foi vítima de traumas físicos e psicológicos. Surgem centros de reabilitação clínica para tratar de pessoas amputadas, paraplégicas, tetraplégicas e pessoas com deficiência sensorial. A questão da deficiência passa, então, a ser apropriada pela medicina.

No Brasil não é diferente. Em 1950 é criada a AACD e, como informa o sítio da Associação, “nasceu do sonho de um médico que queria criar no Brasil um centro de reabilitação com a mesma qualidade dos centros que conhecia no exterior, para tratar crianças e adolescentes com deficiências físicas e reinseri-los (sic) na sociedade.”
Sessenta anos depois de sua fundação, a Instituição ainda mantém como Missão “promover a prevenção, habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência física, especialmente de crianças, adolescentes e jovens, favorecendo a integração social”. (*)

A AACD acaba se tornando, pela ausência do Estado, referência em tratamento; mas pelo modelo arcaico que adota, não é referência em Inclusão; papel que, por definição, é de atribuição do Estado.
Há a compreensão de que hajam pessoas com deficiência que necessitem de reabilitação clínica e que, por omissão do Estado, encontram excelência (e única alternativa) na Instituição.
Aqui verificaremos que a Instituição, por substituir serviços de responsabilidade do Estado, para continuar “viva” necessita que ele (o Estado) mantenha sua omissão e adote o discurso da Inclusão.

O Estado é omisso, entretanto não pode parecer omisso; a Instituição, por sua vez, precisa continuar “necessária”. Para continuar “necessária”, a Instituição precisa da manutenção de uma filosofia “integracionista” – garantida pela omissão do Estado - e de recursos financeiros.

Para garantir expansão e manutenção de seu domínio (são, hoje, sessenta anos acumulando conhecimento médico sobre inúmeros tipos de deficiência física), a AACD adota uma estratégia de “marketing” em que dissemina a sua Marca: cria o Teleton. E o que é o Teleton?

O sítio oficial da Instituição define:
“uma maratona televisiva que busca conscientizar (sic) a população a respeito das possibilidades de um deficiente físico gerando grande mobilização social. Além de prestar contas das atividades realizadas pela AACD, é uma das principais ferramentas de captação de recursos da instituição.”

Como vimos no texto anterior, Censo Insensato, somente quando um Estado responsável apura com maior precisão a realidade social é que pode adotar modelo de gestão pública eficaz para promover equidade social.

Para tanto, é necessário que o Estado estabeleça parâmetros e paradigmas adequados. Necessário é se reconhecer protagonismos.

Os parâmetros e paradigmas adotados quanto à questão da deficiência estão ultrapassados. Alimentar Instituições assistencialistas e centralizadoras de conhecimento no máximo promove a integração (como admite a própria instituição).

A questão da deficiência deve ser observada como uma questão política, de Direitos Humanos. Integrar não é Incluir.
Na Integração, cabe à pessoa com deficiência superar os obstáculos que o meio lhe impõe. Na Inclusão, cabe ao Estado, à Sociedade, remover os obstáculos.

Em março de 2002 mais de 600 pessoas participaram, em Madrid, do Congresso Europeu sobre Deficiência. Surge a Declaração de Madrid, importante documento que se transforma em referencial às pessoas que lutam pela Inclusão.

No sítio da AACD, encontamos, além da Missão acima descrita, a seguinte Visão: “ser a opção preferencial em Reabilitação e Ortopedia para pacientes, médicos, profissionais da área, convênios e apoiadores, e ser reconhecida pelo seu elevado padrão de qualidade e eficácia, com transparência, responsabilidade social e sustentabilidade.”


A Declaração de Madrid traz:

1. A nossa visão pode ser mais bem descrita como sendo um contraste entre duas visões: a antiga dando lugar à nova:

a ) Antiga: pessoas com deficiência como objeto de caridade.
     Nova: pessoas com deficiência como detentores de direitos.

b ) Antiga: pessoas com deficiência como pacientes.
     Nova: pessoas com deficiência como cidadãos e consumidores com autonomia.

c ) Antiga: profissionais tomando decisões pelas pessoas com deficiência.
Nova: tomada de decisões e assunção de responsabilidades, com independência, por parte das pessoas com deficiência e suas organizações em assuntos que lhes dizem respeito.

d ) Antiga: enfoque apenas nas deficiências das pessoas.
     Nova: promoção de ambientes acessíveis e de apoio e da eliminação de barreiras, revisão de culturas e de políticas e normas sociais.

e ) Antiga: rotulação de pessoas como dependentes ou não-empregáveis.
Nova: ênfase nas habilidades e na provisão de medidas efetivas de apoio.

f ) Antiga; projetar processos econômicos e sociais para poucos.
    Nova: projetar um mundo flexível para muitos.

g ) Antiga: segregação desnecessária em educação, emprego e outras áreas da vida.
     Nova: inserção de pessoas com deficiência na corrente principal da sociedade.

h ) Antiga: políticas sobre deficiência como uma questão que afeta apenas os órgãos especiais.
    Nova: inserção de políticas sobre deficiência como uma responsabilidade geral do governo.

O Teleton é a consubstanciação da visão antiga, porque a institucionalização da questão da deficiência é arcaica.

Vejamos:

a) o Teleton perpetua o olhar que a sociedade tem sobre a pessoa com deficiência: objeto de caridade;

b) o Teleton, como a própria instituição o define, é ferramenta de arrecadação para a mesma. E a pessoa com deficiência é, para a AACD, paciente, e a deficiência é reduzida à questão médica;

c) Com o Teleton, a instituição perpetua a visão antiga de que apenas profissionais da área de reabilitação clínica têm autoridade para promover inclusão;

d) O Teleton ajuda na perpetuação de estigmas e preconceitos, ao disseminar, inclusive, terminologia designativa ao segmento criada dentro da instituição;

e) O Teleton reafirma o conceito de dependência, de uma “vida mais feliz”, se e somente se a pessoa com deficiência aderir à instituição. Perpetua a equivocada visão de que ter uma deficiência é ser infeliz;

f) O Teleton, como instrumento de arrecadação, é também instrumento de discurso, uma vez que mantém a ideia de que uma deficiência é impeditiva de capacidade. Ao reabilitar clinicamente seu paciente mais apto, o integram e o apresentam como “herói da superação”;

g) O Teleton reforça o conceito antigo de que pessoas com deficiência devem ser segregadas para serem educadas. O pensamento das pessoas que adiram à institucionalização é de que devam haver escolas especiais para o segmento;

h) O Teleton, como instrumento arrecadatório, dá musculatura financeira à Instituição e essa passa a apoiar, dentro da Instituição Política, candidatos(as) que defendam seus interesses; como também são bastante atuantes em Conselhos.

Recentemente estava em uma pizzaria próxima a minha casa. Havia um casal de crianças brincando no salão e o menino se aproximou de mim e me abordou:
"Oi, quantos anos você tem?"
"Quarenta e nove. E você?"
"Seis. Você tem doença?"
"Não.... Por que pergunta?"
"Por que você tem esses bracinhos curtos... (apontando para meus braços)"
"(...)"
"Você não 'tava' no Silvio Santos?"
"Não...(...)"
Nesse instante, a menina (talvez sua irmãzinha) o chamou para continuar a brincar.

Fiquei olhando, impressionado, a criança de seis anos e a compreendi: não porque ela tinha seis anos, mas como um equívoco de pensamento pode ser perpetuado, fazendo com que uma criança de seis anos olhe uma diferença e a confunda com doença; e de onde saíra tal informação equivocada, qual a fonte e qual a consequência desse pensamento estreito quando perpetuado.

Fico muito mais impressionado quando observo ADULTOS, e mais, ADULTOS com deficiência, multiplicando esta ignomínia quando apoia esse tipo de evento.   

Percebem, caros(as) leitores(as), que a institucionalização da questão da deficiência não promove a Inclusão?
Que é muito conveniente aos governos, mormente aos reprodutores e mantenedores dos interesses do Sistema, apoiar Instituições assistenciais em detrimento de criação de políticas públicas eficazes para promoção da Inclusão?

Para mim, o Teleton está para a AACD assim como o MacDiaFeliz está para o MacDonalds.
É sabido e amplamente denunciado que a rede de “fast food” MacDonalds – e similares – produz alimentos que podem causar sérios danos à saúde, inclusive câncer. As crianças são o principal alvo consumidor da rede.
Uma vez ao ano, a rede promove um evento “arrecadatório”, vendem milhões de alimentos considerados cancerígenos e parte (insigificante, diga-se) é “doado”.
"Doado" a quem?
Ao Hospital do Câncer!
“Ajudam” ao hospital a tratar de uma doença que seu próprio produto provoca!

E o que me chama a atenção nessa contradição?
É a adesão de pessoas com deficiência, que por motivo vário acabam se tornando públicas e, portanto, com exposição de mídia, tanto à campanha da AACD quanto à do MacDonalds!

Por que?

Talvez porque ainda não saibam diferenciar Integração de Inclusão.

Talvez porque ainda adotem o pensamento linear; não descobriram nem foram estimulados a compreenderem o mundo que o cercam sistemicamente.

Amílcar Zanelatto Fernandes

(*) Os destaques em negrito itálico, assim como a expressão sic, entre parênteses, são de minha inteira responsabilidade.


Faixa Livre - Cartilhas de acessibilidade às calçadas.




Postado em 03.12.2010


Primeiramente faz-se necessário expor o que é calçada e o que é área de passeio. Estamos neste blog abordando sobre conquistas e direitos, sobretudo o direito de TODOS (AS) circularem pelas cidades com autonomia, segurança, conforto e fluidez; portanto nos basearemos nas definições dadas conforme o Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que diz:

A calçada é“Parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário, sinalização, vegetação
e outros fins.”

O passeio é - “Parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso separada por pintura ou elemento físico, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas...”

Segundo o CTB, entendemos que a área de passeio é parte da calçada ou da via, ou da rota destinada a circulação de pedestres e, obviamente, que deve estar livre de obstruções.

A norma NBR 9050-04 inclusive cita essas definições; no entanto, a mesma expõe o seguinte com relação a faixa livre:


“Faixa livre: Área do passeio, calçada, via ou rota destinada exclusivamente à circulação de pedestres.”


Então podemos supor que faixa livre é a mesma coisa que área de passeio, citada no CTB. Seria o sensato. Entretanto, esta citação da norma nos dá outra idéia ....


Calçadas, passeios e vias exclusivas de pedestres devem incorporar faixa livre com largura mínima recomendável de 1,50 m, sendo o mínimo admissível de 1,20...


Quando a norma cita, por exemplo, que o passeio deve incorporar faixa livre de 1,20m, logo o gestor público entende que a área de passeio de uma calçada destinada exclusivamente ao pedestre com 2,00m de largura poderá ser reduzida a uma faixa de 1,20m. A norma diz mínimo admissível 1,20m e 

o gestor entende como largura ideal para o passeio público!

O que as prefeituras, baseando-se na brecha da norma técnica NBR 9050, oferecem ao pedestre: um espaço mínimo de 1,20m do calçamento.


Tomemos como exemplo a rua Pedro de Toledo, revitalizada pela prefeitura de São  Paulo  (gestão Kassab),  conforme  a cartilha Passeio Livre...

Fonte: Soluções para Cidades

Calçada com mais de 3,00 m de largura, (ah se todas fossem assim!), cuja área de passeio livre de obstruções com 2,00m de largura fora reduzida numa faixa livre de 1,20m! 

1,20m NÃO garante a livre circulação a Todos (as).

Rua Piauí - SCSul
Na imagem acima, a trena no piso da calçada da rua Piauí, em São Caetano do Sul, está marcando 1,20m de largura. Observem que mal dá para duas pessoas circularem. Uma pessoa que faça uso de cadeira de rodas em movimento irá ocupar exatamente os 1,20m. 

Pensem na situação: uma pessoa cega se guiando pela linha da edificação em sentido contrário ao da pessoa usuária de cadeira de rodas. Quem disputará espaço com os carros?

Nas imagens abaixo, nestes trechos da rua Pedro de Toledo - SP, as faixas livres de obstruções destinadas ao pedestre possuem largura de 1,90m (seriam mais largas se não houvesse a tal faixa de acesso ao imóvel). Nota-se maior liberdade de movimento (fluidez) dos pedestres.

Google maps
Google maps.

E para garantir a fluidez tão desejada pelos pedestres a norma NBR 9050-04 estabelece que:


Admite-se que a faixa livre possa absorver com conforto um fluxo de tráfego de 25 pedestres por minuto, em ambos os sentidos, a cada metro de largura. Para determinação da largura da faixa livre em função do fluxo de pedestres, utiliza-se a seguinte equação:

L= F + Σ i ≥ 1,20
K

Isso quer dizer que os técnicos das prefeituras terão que fazer uma contagem “básica” de fluxo de pessoas em um horário de maior movimentação para então estabelecerem a largura ideal da faixa livre (área de passeio) nas calçadas. E certamente constatarão que as calçadas, em sua maioria, deverão ser consideravelmente alargadas.

Talvez seja por essa evidente constatação que muitas prefeituras simplesmente ignoram tal determinação. Imaginem, as calçadas que desde a década de 1960, quando se estabeleceu, no Brasil, a cultura do automóvel, não passam de sobras do viário, tendo agora que tomarem para si parte desse mesmo viário!

Um absurdo para os “papas” do trânsito sobre rodas.

E naturalmente que tais informações não constam nas cartilhas.



Concluindo esta postagem...

Para nós, do Inclua-se!, a Faixa Livre deve ser:


TODA a área de passeio, seja nas calçadas e calçadões, nos parques e praças, nas vias e rotas destinada exclusivamente à circulação de pedestre.

Sendo que nas calçadas esta área vai da face dos imóveis até o início da área onde se encontram os equipamentos e mobiliários urbanos (faixa de serviço).


O que desejamos: passeios nas calçadas livres de obstáculos que possibilitem o livre transitar.


É o mínimo que se espera de uma norma técnica 9050 (lei) que contém a seguinte citação:


Esta Norma visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos.


E de gestores públicos que dizem:


A conquista da acessibilidade, que a princípio serviria para atender a pessoas
com deficiência, beneficia a população, sendo portanto, uma conquista
de toda a sociedade. Cartilha Passeio Livre.

Momento desabafo by Tuca Monteiro

Com tantas opiniões reprodutoras de um modelo excludente sendo divulgadas na rede, quando encontramos uma que trás à tona a questão, com olhar crítico, temos a feliz certeza: não estamos sós.

Sendo assim indico a leitura, “O uso indevido do bem público: as calçadas." por Rizzato Nunes, a todos (as) que estão com o olhar desfocado sobre essas tais faixas das cartilhas de acesso nas calçadas.


Próxima postagem: Para o Poder Público Municipal e Associações, quando convém, a norma 9050 está escrita em grego!



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Diálogos, História, CENSO, Teleton e MacDiaFeliz

Postado em 29.11.2010.

                    Por Amilcar Zanelatto Fernandes                                          


 Censo Insensato

O Brasil coleta dados sobre pessoas com deficiência desde 1872, porém de forma precária e centrada apenas nos aspectos físicos. De 1920 até 1940, o censo inclui algumas categorias mentais (sic) advindas do Congresso de Londres. Já a partir da década de 1980, por pressão de organizações de pessoas com deficiência, se tornam obrigatórias perguntas que apurem com mais precisão dados sobre o segmento. Entretanto, a Lei 7853/89 mantém a obrigatoriedade somente de perguntas referentes a características físicas e intelectuais. O censo de 1991 mantém a mesma formatação.

O censo de 2000, por recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde), passa a adotar o CIF (Código Internacional de Funcionalidades) como inspiradora a formulação das perguntas, referenciando-se por um modelo social. Esse novo critério apurou que, no censo 2000, 14,5% (24,1 milhões entre 166 milhões) das pessoas declararam ter algum tipo de deficiência. Em 1991, foram apuradas 1,41% (2,07 milhões entre 146 milhões). Um aumento nominal de 1063%!!!

Então, podemos afirmar que há precisão nesses dados, não?

Não.

Por que?

Porque esses dados foram colhidos por amostragem.

Pelo critério de amostragem, em um de cada cinco domicílios é aplicado o questionário para verificação de existência de pessoa com deficiência.

Além disso, as questões estão elaboradas de forma tal que suscitam dúvidas quanto à precisão estatísticas dos resultados.


Vejamos o questionário do Censo 2000, encontrável no endereço http://www.ibge.gov.br/censo/quest_amostra.pdf :





4.10 - TEM ALGUMA DEFICIÊNCIA MENTAL (sic) PERMANENTE QUE LIMITE AS SUAS ATIVIDADES HABITUAIS?
(Como trabalhar, ir à escola, brincar, etc.)
1 - SIM                                                                      2 - NÃO

4.11 - COMO AVALIA A SUA CAPACIDADE DE ENXERGAR? (Se utiliza óculos ou lentes de contato, faça sua avaliação quando os estiver utilizando)
1 – INCAPAZ             2 - GRANDE DIFICULDADE PERMANENTE
3 - ALGUMA DIFICULDADE PERMANENTE          4 - NENHUMA DIFICULDADE

4.12 - COMO AVALIA A SUA CAPACIDADE DE OUVIR? (Se utiliza aparelho auditivo, faça sua avaliação quando o estiver utilizando)
1 – INCAPAZ                                                             2 - GRANDE DIFICULDADE PERMANENTE
3 - ALGUMA DIFICULDADE PERMANENTE        4 - NENHUMA DIFICULDADE

4.13 - COMO AVALIA A SUA CAPACIDADE DE CAMINHAR/SUBIR ESCADAS?(Se utiliza prótese, bengala ou aparelho auxiliar, faça sua avaliação quando o estiver utilizando)
1 – INCAPAZ                                                             2 - GRANDE DIFICULDADE PERMANENTE
3 - ALGUMA DIFICULDADE PERMANENTE        4 - NENHUMA DIFICULDADE

4.14 - TEM ALGUMA DAS SEGUINTES DEFICIÊNCIAS: (Assinale somente uma alternativa),
priorizando a ordem apresentada)
1 - PARALISIA PERMANENTE TOTAL                  2 - PARALISIA PERMANENTE DAS PERNAS
3 - PARALISIA PERMANENTE DE UM                  4 - FALTA DE PERNA, BRAÇO, MÃO, PÉ OU   DOS LADOS DO CORPO                                              DEDO POLEGAR

5 - NENHUMA DAS ENUMERADAS.


Na questão 4.10, referente à deficiência metal (sic) (percebem o erro na terminologia? Não há deficiência mental; há doença mental. E doenças, muitas não são de caráter permanente – porque curáveis -, enquanto que uma deficiência somente é deficiência porque permanente), há duas opções de resposta: sim ou não.

Ora, como aferir “limitações”?

Há graus de severidade limitativa, comparativamente ao meio, em qualquer tipo de deficiência.

Não seria mais prático e preciso, portanto, sensato (sem eufemismos) perguntar à pessoa entrevistada:
“Há alguma pessoa com deficiência intelectual?

Se sim, de que tipo (lista de causas de deficiência intelectual, inclusive a opção “desconhecida”)?

Estuda? Qual grau de escolaridade?

Trabalha?

Tem autonomia para as seguintes atividades: alimentação, higiene pessoal, locomoção?

Já nas questões 4.11 a 4.13 verificamos que, se a pessoa entrevistada utilizar prótese ou órtese e declarar o item 4 (nenhuma dificuldade), ela passa a não ter deficiência. É isso?

A questão 4.14, por seu turno, considera apenas a existência de hemiplegia, paraplegia, tetraplegia e amputação. Esqueceram-se, os(as) elaboradores(as), que existem atrofias também, como no meu caso: atrofia de membros superiores causada pela Síndrome da Talidomida.

Independentemente disso, o IBGE divulgou os seguintes dados básicos apurados em 2000:

Censo IBGE 2000 - População com Alguma Deficiência.

Mental (sic): 2.848.684

Física:
- Tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia : 955.287
- Falta de membro ou de parte dele: 466.936
TOTAL: 1.422.223

Motora:
- Incapaz de caminhar ou subir escada: 588.201
- Grande dificuldade permanente de caminhar ou subir escada: 1.799.917
- Alguma dificuldade permanente de caminhar ou subir escada: 5.491.482
TOTAL: 7.879.600

Auditiva:
- Incapaz de ouvir: 176.067
- Grande dificuldade permanente de ouvir: 860.889
- Alguma dificuldade permanente de ouvir: 4.713.854
TOTAL: 5.750.810

Visual:
- Incapaz de enxergar: 159.824
- Grande dificuldade permanente de enxergar: 2.398.472
- Alguma dificuldade permanente de enxergar: 14.015.641
TOTAL: 16.573.937

Em 2004 eu ainda era filiado ao Partido dos Trabalhadores e um colega de partido, Flavio Henrique, manifestara interesse em se candidatar à vereança no pleito municipal daquele ano, aqui em São Caetano do Sul. Flavio, que é cego, me fora apresentado por Tuca Munhoz, então Coordenador do Setorial Estadual da Pessoa com Deficiência Petista e com quem eu, em 1991, fundara o MID, hoje Instituto MID para Participação Social da Pessoa com Deficiência. Tuca nos apresentara a Cida, socióloga cujo trabalho fora, dentre outras análises, o de “cruzar” dados sobre condições sócio-econômicas e escolaridade de pessoas com deficiência do município de São Caetano do Sul, onde moro. Apurou-se que 10,9% da população de São Caetano declararam ao Censo (por amostragem) 2000 ter algum tipo de deficiência. Destas, em idade escolar (28% da população com deficiência), apenas 24% concluíra o Ensino Fundamental. Da população economicamente ativa, somente 1,4% trabalhavam formalmente. 71% das pessoas com deficiência no município pertenciam a famílias cuja renda não ultrapassava dois salários mínimos.

Munido deste e de outros dados, pesquisei quantas e quais as ações do Poder Público municipal durante o período 2001-2004 em favor do segmento.
  • Não houvera política pública
  • A produção legislativa do período voltada ao segmento somente não fora nula porque um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o MP obrigou o Executivo a fazer aprovar a Lei 4207/04 que “INSTITUI O ESTATUTO MUNICIPAL DA PESSOA DEFICIENTE E DO PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS" (sic) (coligido do PL 3638/00, de iniciativa do então deputado Paulo Paim (PT)). E este “estatuto” municipal está repleto de barreira programática.
Gerou-se, então, o seguinte documento:

"INTRODUÇÃO


Da população brasileira, cerca de 14,5% - aproximadamente 24,6 milhões de pessoas – têm algum tipo de deficiência. Em São Caetano do Sul, 10,9% da população declarou ao censo 2000 do IBGE possuir algum tipo de deficiência, sendo que cerca da metade desse percentual apresentam deficiência física ou  mobilidade reduzida, 35% com deficiência sensorial ( visual ou auditiva ) e cerca de 15% com deficiência intelectual.

Sabendo-se da dívida social histórica que os municípios têm para com as pessoas com deficiência, e a consequente falta de qualidade de vida deste segmento, concluímos que uma sociedade que se pretende democrática e humanista, portanto, socialista, deve entender a realidade e as necessidades destas pessoas e, em respeito a elas, instituir políticas específicas a partir de um novo modelo e de uma nova postura, contemplando a participação e reconhecendo o papel protagonista desse segmento nas propostas de ações afirmativas que equiparem oportunidades, reordene e articule as ações do Município na perspectiva de proporcionar uma vida mais digna, com qualidade e, principalmente, autonomia.
Amílcar Zanelatto Fernandes

I – Diagnóstico

I.a – Acessibilidade Arquitetônica
A Lei Municipal 4.207/04 (Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência e de necessidades Especiais(sic)) trata da acessibilidade - sendo seus artigos coligidos da PL 3638/00 e Lei Federal 10.098/00  -; e, no entanto, o Estatuto ainda não foi regulamentado. Não há adaptação de calçadas, com guias rebaixadas conforme norma da ABNT (consideramos a NBR 9050 como referência, apenas. Há falhas que necessitam ser reparadas). Os edifícios públicos e privados necessitam de adaptações, há ausência de continuidade e uso inadequado do Símbolo Internacional de Acesso (SAI).

I.b – Acessibilidade de Comunicação
A Prefeitura não possui um programa de comunicação institucional impresso em Braille, os eventos públicos não contam com tradutores de LIBRAS ( Língua Brasileira de Sinais ) e ainda não implantamos um programa de inclusão digital.

I.c – Transporte
O sistema de transporte coletivo do município conta com alguns ônibus dotados de plataforma elevatória para pessoas com deficiência, mas por falta de um programa integrado de acessibilidade, não atende às nossas necessidades. Há apenas uma perua “Van” para condução de pessoas com deficiência a hospitais públicos ou privados.

I.d – Educação
Não existe na cidade nenhum projeto de inclusão escolar de pessoas com deficiência envolvendo capacitação profissional do corpo docente, agentes escolares, administração escolar, pais e corpo discente. Poucas escolas estão adaptadas conforme a Lei de Acessibilidade. Das pessoas com deficiência do município em idade escolar, 76% não completaram o ensino fundamental.

I.e – Cultura, Esporte e Lazer
Programas esportivos e de lazer voltados para pessoas com deficiência são nulos no município, embora haja uma lei municipal (3.626/98), não regulamentada, que “disciplina a participação de pessoas com deficiência nos jogos regionais no município”. O acervo em Braille é deficitário, abrigado em uma única biblioteca (Vila Gerty); os funcionários não estão capacitados para receberem pessoas com deficiência e não há acessibilidade digital, assim como arquitetônica. Os espetáculos teatrais não contam com tradutores em LIBRAS.

I.f – Saúde
Não existe no município um programa específico de atendimento a pessoas com deficiência, em especial à mulher com deficiência. Não existe um serviço público municipal de habilitação e reabilitação, nem políticas públicas de prevenção de enfermidades que resultam em sequelas.

I.g – Emprego e Renda
O município carece de serviços de capacitação profissional para pessoas com deficiência.
Desconhece-se o número de empresas que possuem mais de 100(cem) funcionários, para a exigência do cumprimento da lei de cotas. Cerca de 98,6% das pessoas com deficiência do município, em idade de trabalho, não estão inseridas no mercado formal e, desse percentual, 76% nunca trabalharam.

I.h – Assistência Social
São Caetano do Sul adota uma incisiva política asssistencialista. Suas principais instituições assistenciais (APAE e Anne Sullivan) têm forte representatividade na Câmara Municipal. A maioria das pessoas com deficiência ou seus familiares por mim abordados nesses meses tem receio de participarem de discussões de seus direitos por acreditarem que possam perder “privilégios”, tais como vaga nas instituições, cadeiras de rodas, cestas básicas, etc..

Esse modelo deve ser insistentemente combatido, pois estabelece uma relação de dependência, impedindo a construção de uma autonomia e o consequente não pertencimento à cidade.

Há um Conselho Municipal da Pessoa Portadora de Deficiência(sic), conforme Lei Municipal 4.096/02 (não regulamentada), não paritária.


II – Propostas

Abaixo estão descritas algumas propostas desse setorial para o segmento:

• Promover a articulação das políticas públicas municipais setoriais, como educação, saúde, transporte, comunicação, ação social, esportes, lazer, cultura e infra-estrutura, entre outras, a fim de que sejam criadas redes de serviços que contemplem uma nova atitude em relação à atenção do município em “promover a cidadania da pessoa com deficiência”, entendendo-se como efetiva sua participação em uma sociedade autônoma ;

• Estimular pesquisas e estudos sobre as causas que originam as deficiências no município, visando a prevenção;

• Estimular pesquisas censitárias e demais estudos da pessoa com deficiência para que o município possa ter um perfil delas, com o objetivo de tornar públicas suas realidades (quantos somos, quais as causa da deficiência, onde estamos, como vivemos, quais os níveis de escolaridade, etc.);

• Assegurar o direito à comunicação e à cultura às pessoas com deficiência visual e auditiva estimulando a produção em Braille, Libras, textos falados, programações legendadas, acessibilidade digital em todas as páginas da administração pública e outros recursos, de forma a garantir a universalização da comunicação, da formação e da informação;

• Garantir o cumprimento da legislação no que diz respeito à acessibilidade, com a eliminação de barreiras físicas, atitudinais e comunicacionais através de adaptações dos espaços, edifícios, meios de transporte, etc;

• Desenvolver ações que estimulem as empresas a adaptarem seus métodos, procedimentos, e equipamentos de trabalho às pessoas com deficiência;

• Cumprir a legislação no que diz respeito à construção de moradias acessíveis as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, nos programas de habitação municipal, utilizando o conceito o Desenho Universal;

• Assegurar a participação de pessoas com deficiência em todas as fases do processo de formulação e implementação das políticas públicas para este segmento;

• Fortalecer o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência como instância de formulação, definição e participação popular e democrática da pessoa com deficiência, como a criação do Comitê Municipal de Acessibilidade;

• Promover programas de capacitação dos recursos humanos do município sobre essa nova atitude em relação à pessoa com deficiência."


Como podem perceber, embora o documento acima fora gerado tendo como base dados do Censo 2000, se o Censo trouxesse maior precisão, melhor seria o planejamento para ações concretas ao segmento.

 

Por que, afinal, o IBGE não apura com precisão dados quantitativos e qualitativos do segmento, insistindo no Censo por amostragem?

Por que o Poder Público – mormente em gestões que sustentam o sistema econômico vigente - não se interessa, mesmo com os dados apenas estatísticos, em promover políticas públicas consistentes ao segmento?

É o que analisaremos na próxima postagem, Teleton e MacDiaFeliz.

Mas, antes, convido o(a) leitor(a) a analisar o questionário do Censo (por amostragem) 2010: o que acham?


 




6.14 - TEM DIFICULDADE PERMANENTE DE ENXERGAR?
( SE UTILIZA ÓCULOS OU LENTES DE CONTATO, FAÇA SUA AVALIAÇÃO QUANDO OS ESTIVER UTILIZANDO)
1 - SIM, NÃO CONSEGUE DE MODO ALGUM 3 - SIM, ALGUMA DIFICULDADE
2 - SIM, GRANDE DIFICULDADE 4- NÃO, NENHUMA DIFICULDADE

6.15 - TEM DIFICULDADE PERMANENTE DE OUVIR?
( SE UTILIZA APARELHO AUDITIVO, FAÇA SUA AVALIAÇÃO QUANDO O ESTIVER UTILIZANDO)
1 - SIM, NÃO CONSEGUE DE MODO ALGUM 3 - SIM, ALGUMA DIFICULDADE
2 - SIM, GRANDE DIFICULDADE siga 6.16 4 - NÃO, NENHUMA DIFICULDADE

6.16 - TEM DIFICULDADE PERMANENTE DE CAMINHAR OU SUBIR DEGRAUS?
( SE UTILIZA PRÓTESE, BENGALA OU APARELHO AUXILIAR, FAÇA SUA AVALIAÇÃO QUANDO O ESTIVER UTILIZANDO)
1 - SIM, NÃO CONSEGUE DE MODO ALGUM 3 - SIM, ALGUMA DIFICULDADE
2 - SIM, GRANDE DIFICULDADE siga 6.17 4 - NÃO, NENHUMA DIFICULDADE

6.17 - TEM ALGUMA DEFICIÊNCIA MENTAL / INTELECTUAL PERMANENTE QUE LIMITE AS SUAS ATIVIDADES HABITUAIS, COMO
TRABALHAR, IR À ESCOLA, BRINCAR, ETC.?
1 - SIM 2 - NÃO



Leia também: Diálogos e História.

Em uma sociedade que apenas possibilita a integração, o "degrau" no Congresso Nacional causou espanto.

 Postado em 26.11.2010


 Por Tuca Monteiro               



Um dos assuntos do momento no twitter sem dúvida fora o Congresso Nacional. Muitas pessoas “twittando” indignadas sobre a matéria do jornalista Jairo Marques intitulada “Degraus desafiam deputados cadeirantes em Brasília”.

Para aqueles (as) que não apreciam serem reduzidos (as) a um objeto ( conheço alguns (mas) como o @Tucamunhoz, do MID) - no caso, a uma cadeira (cadeirante) - tomo a liberdade de sugerir um título mais apropriado: 

Degraus no Congresso Nacional desafiam deputados (as) com deficiência

Mas não fora o termo “cadeirante” que indignara as pessoas, absolutamente que não! A questão fora: como é possível o Palácio do Planalto (dos Despachos), o Senado Federal, a Câmara dos Deputados, o Supremo Tribunal Federal, além do Ministério da Educação, (lugares citados na matéria) não estarem plenamente Acessíveis a TODAS as pessoas!? Como podem descaradamente os nobres representantes do POVO (!) ignorarem as Leis e ferirem a Constituição Brasileira?  (E lembrando que estar acessível não é apenas estar livre das assombrosas barreiras arquitetônicas). 

Contudo, aqueles que tem por hábito vivenciar os lugares e percebê-los sob o olhar da acessibilidade, tanto arquitetônica quanto urbanística, não se espantariam com tal constatação: essa, infelizmente, é a realidade. Basta lapidar o olhar - como tenho dito aqui, no blog - e passamos a enxergar que o que há é a falsa acessibilidade por todos os lados neste País, embora muitos são os que gritam:

A REVOLUÇÃO CHEGOU!...

Temos até cidades modelos em Acessibilidade e Inclusão divulgadas pelo governo Federal, levando-me a crer que o olhar do mesmo sobre o que seja Acessibilidade e Inclusão esteja bem desfocado.

Lamento em dizer aos revolucionários, mas há ainda um longo caminho a ser percorrido e muito a ser modificado; transformado. Falta um olhar crítico sobre tudo o que os Poderes - tanto o Federal, quanto o Estadual e, sobretudo, o Municipal - estão elaborando. Cito como exemplo as Cartilhas de Acessibilidade nas Calçadas, onde estão presentes, além da falsa acessibilidade, o descaso, a ignorância sobre o universo e as necessidades da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida pelos gestores públicos e com anuência de pessoas com deficiência e de “especialistas” em Acessibilidade, Desenho Universal e Inclusão!

Sem falar que, após duas décadas de luta pelos Direitos da Pessoa com Deficiência, muitos são os que mal sabem diferenciar um conceito Integracionista de um conceito Includente. Como podem defender um modelo econômico-social pautado na competitividade e na desigualdade e ao mesmo tempo lutarem pela inclusão? Isso é, no máximo, buscar a integração; integrar alguns: neste caso, aqueles que estão aptos física e economicamente a se adequarem ao modelo social pré-estabelecido.

Estes (as), por sua vez, buscam o direito ( que deve ser para TODOS) de terem acesso a tudo, desde avião, hotel, motel, turismo, restaurante, shopping center, teatro, cinema, carros, casa, e claro ao Congresso Nacional (!); enfim, potenciais consumidores que terão a sua disposição tudo o que há de mais moderno em tecnologia assistiva - não foi à toa que a novela global Viver a Vida tinha como pessoa com deficiência uma moça da elite carioca.

Estão incluídos?

Não!

Estão integrados, pois incluir é dar as mesmas condições a TODOS (AS). E sabemos que o Brasil é um dos países mais injustos do ponto de vista social.

Somente uma minoria está tendo acesso à cidade, à sociedade, enquanto que a maioria - que inclusive vive em péssimas condições de habitabilidade - continuará excluída. Pergunto: como será a vida das pessoas com deficiência nos chamados bairros satélites em Brasília? Se falta acessibilidade nos Palácios, faço idéia no restante.

Obviamente, e se o IPHAN com o discurso preservacionista do “não podemos comprometer a estética do edifício” (os edifícios em questão são tombados) não colocar mais obstáculos, em breve (se tudo correr bem com as licitações ou quem sabe carta convite, se o orçamento das adaptações não extrapolarem o orçamento; se..., se..., se...) os (as) três deputados (as) eleitos (as) terão pleno acesso aos Palácios. Certamente uma equipe de especialistas em Acessibilidade tornará cada cantinho, cada objeto acessível a eles (as), incluindo no pacote também as adaptações nas novas moradias; certamente não irão esquecer desse detalhe.

E por falar em detalhe, que tal essas cozinhas projetadas seguindo o conceito do Desenho Universal, um luxo!




O problema será se os demais deputados(as) e também os senadores (as), ou até mesmo nossa Presidenta fizerem questão de uma dessas; ai meu bolsinho...

A minha maior indignação é: e quanto ao restante da população, aqueles que ainda vivem da caridade dos mais favorecidos, vivem dependendo das instituições assistenciais ou  asilares e que muitas vezes não tem acesso ao saneamento básico (o que dirá a uma cozinha automatizada), quando é que terão os mesmos direitos que os nobres deputados (as)? Até quando teremos que ficar apontando cada equívoco, cada omissão dos governantes, denunciando ao Ministério Público sempre, sempre, sempre e para no final conseguir no máximo um remendinho mal feito, mas que custará caro aos cofres públicos?



E o que seria essa falsa acessibilidade?

Ter uma rampa de acesso a um edifício com até 12,5% de inclinação!

Ter rampas nas calçadas com até 8,33% de inclinação!

Ter apenas o vaso sanitário dentro da cabine de um sanitário e não ter o lavatório!

Ter portas de acesso em edifícios de uso público com no mínimo 80cm!

Ter um único orelhão acessível em uma rua de grande extensão!

Ter pisos nos passeios que causam sensação de tridimensionalidade, devido ao desenho, as pessoas com baixa visão!


Citei algumas das barreiras existentes na norma NBR 9050-04 e que passam a impressão para quem não é pessoa com deficiência, ou que não esteja com mobilidade reduzida, que o lugar está adequado a todos mas, no entanto, não permite o conforto, a segurança muito menos a autonomia. O que espero dos três deputados (as) que levantam a bandeira da Pessoa com Deficiência (Mara Gabrilli (PSDB-SP), Rosinha da Adefal (PTdoB-AL) e Walter Tosta (PMN-MG))? Que participem ativamente da discussão pública sobre a revisão da norma!

Abaixo não somente com as barreiras arquitetônicas, mas também, com as programáticas!